quarta-feira, 28 de outubro de 2015

ENTREVISTA PARA A VICE

Esta entrevista foi concedida para a repórter Fanni Duarte, da revista Vice. Estou publicando aqui uma edição diferente, mais fiel ao texto original, com menos cortes e deslocamentos. Os comentários entre colchetes são acréscimos posteriores.


Vice
Então, quem idealizou o projeto e por quê?


Menos Playstation
Se por "projeto" você se refere ao Menos Playstation, que dá o nome desta página e também do blog, ele é muito mais uma peça de propaganda do que um projeto com plano de ação fechado. Quem mantém atualizados tanto o blog quanto a página do Facebook é o Pedro Paiva (com quem você está falando agora), autor da maioria dos jogos disponíveis no blog (onde também estão jogos de alunos meus e de amigos feitos em modestas jams que organizamos em Porto Alegre).

Tem um documento, uma carta de princípios, que escrevi no final de 2013 com Enric Llagostera (autor de algumas traduções da Liz Ryerson que estão publicadas no blog) e Bruno Ferreira (programador da versão em html5 de Odeio Carros, um jogo que desenvolvemos para o Pirate Kart 2012), que dá algumas diretrizes pras minhas ações. Na época chamamos essa tendência de videogame revoltado, "um giro à esquerda no videogame independente". Percebemos a facilidade com que a cultura do videogame estava sendo levada a um conservadorismo de direita, e o quão urgente era oferecer um contraponto, assumindo abertamente uma posição de esquerda.

O Mais Ódio Menos Playstation seria, então, uma dessas ações individuais dentro de um esforço coletivo em disputar o videogame politicamente. Pode ser definida como uma ação de propaganda composta de textos e videogames.

Mas não é algo fechado, e junto com os "textos e videogames" podem surgir coisas como as jams de que falei antes ou eventos como esse que vai acontecer sexta [me refiro à atividade "A Bienal é chata!" que ofereci para a semana acadêmica do Instituto de Artes da UFRGS].

Em 2014 houve uma tentativa de constituir um coletivo mais duradouro a partir das jams, que tínhamos apelidado de "Gato no Teclado" (em referência ao gato negro, um dos símbolos do anarquismo), mas ele acabou não se mostrando tão duradouro.


Vice
Legal! o que você define como "games de direita"? São games com histórias lineares divididas entre "o herói" e o "vilão"? Me explica um pouco mais desse conceito, de games de "direita" e "esquerda", se tem a ver apenas com inclusão, mercado e etc. ou também com a história.


Menos Playstation
O que chamo de "videogame de direita" é menos sobre os jogos como produtos e mais sobre a cultura em torno dos jogos. Como fabricamos os jogos (ou não fabricamos), como os consumimos, qual é a expectativa média que se tem sobre os jogos (o que é considerado um jogo bom e um jogo ruim?), que grupos identitários tomam parte na formação dessa cultura e que importância é dada à sua participação... enfim, tudo o que forma o videogame por dentro e por fora.

O videogame à esquerda e, mais especificamente no meu caso, o videogame situado na esquerda libertária, seria o esforço de pensar o papel de videogame num projeto de sociedade socialista e sem Estado.


Vice
E, na sua opinião, o que é necessário acontecer pro videogame se tornar um projeto de sociedade socialista e sem Estado? Como seria o "mundo ideal" desse conceito?


Menos Playstation
[O videogame não "se torna um projeto", mas toma parte num conjunto de esforços que devem estar combinados com ele.]. Por enquanto existem dois campos de ação que considero os mais importantes [para uma ação dentro da cultura do videogame]: o da estética, esse lance de "educação da expectativa", ou seja: demonstrar para o entusiasta do videogame que é legítimo criar e jogar jogos modestos, mais fáceis de fazer. E o outro seria o de construir espaços de socialidade: fliperamas, por exemplo.

Na verdade, um fliperama é a maior ambição que eu tenho no momento. Construir uma cena local, saca? O videogame independente está ainda muito focado em "fazer sucesso comercial na gringa", e não se pensa a relevância local. O indie[, pelo menos aqui no Brasil,] ainda está fascinado com a ideia de ser o novo Braid.


Vice
Entendi! Nesse caso, na sua opinião, o maior ganho que um desenvolvedor pode ter é a inclusão social, e não a grana?


Menos Playstation
É, podemos dizer que sim. Embora a grana ainda seja um imperativo (eu trabalho como professor de artes na escola pública, por exemplo, porque não tenho como me dedicar ao videogame integralmente).


Vice
E por que "menos playstation" e não "menos nintendo" ou "menos xbox"? Qual a sua opinião sincera sobre o playstation?


Menos Playstation
Na verdade eu até tenho um Playstation, o primeiro, e tem jogos ótimos que saíram pra ele. Mas acho que ele simboliza melhor essa cultura capitalista-industrial do videogame - é uma marca muito mais icônica do que o Xbox, e a Nintendo ainda está muito associada ao passado. Às vezes é mais potente ressignificar símbolos e ícones já presentes no imaginário coletivo do que inventar nomes novos sem o peso da história.


Vice
Mas você acha que a Sony trabalha pra alienar a galera e etc.? Qual sua opinião sobre as estratégias de mercado adotadas por eles nos últimos anos?


Menos Playstation
A mesma de sempre: fabricar toneladas de hardware que já chega nas lojas obsoleto, praticamente. Não é sustentável, digamos assim.


Vice
Me explica isso. Como assim "não é sustentável"?


Menos Playstation
O videogame industrial está a serviço do lucro antes da cultura - um jogo que demanda uma enorme quantidade de gente e dinheiro pra ser feito e distribuído deve vender também em enormes quantidades. E cada pessoa deve comprar mil vezes o mesmo videogame, eles não são feitos como um bem duradouro. São fabricados pra se tornarem obsoletos, pra que venha outro e substitua. Que diferenças relevantes existem entre o Playstation 2, 3, 4...?


Vice
Mas os consoles são trocados pra suportarem mais tecnologia, realidade...não?


Menos Playstation
Os consoles são trocados por uma convenção de mercado, não há diferença importante entre duas gerações de consoles.


Vice
Mas e o que você pensa de títulos fortes, como The Witcher, que ganharam inúmeros prêmios? Ou até mesmo o FIFA, que dá "a oportunidade" de milhares de gamers comendarem seus times de futebol? Acha que um jogo independente conseguiria suprir essa carencia?


Menos Playstation
Um jogo independente não precisa suprir essa carência, mas contribuir pra formação de novas expectativas. Por que precisamos jogar coisas cada vez mais complexas e tal?


Vice
Como assim "contribuir pra formação de novas expectativas"?


Menos Playstation
As pessoas podem aprender a gostar de coisas mais simples, que podem ser feitas por poucas pessoas.


Vice
Mas isso não é uma tendência? Saiu um estudo que os games realmente estão ficando mais "fáceis". Mais realistas, porém mais fáceis. Motivo: sociedade imediatista. O garoto não tem paciência pra um jogo com muitas horas... ele quer se sentir "bom" e zerar rápido, pra passar do fácil pro médio, daí pro difícil e depois comprar a expansão. Se o jogo é muito complexo, a publisher perde o timing pra vender a expansão e os próximos lançamentos.


Menos Playstation
Se estão ficando mais fáceis (não posso constatar porque não jogo nada recente do mainstream desde o primeiro Half Life), acredito que seja muito mais pra tornar o consumo mais rápido e gerar a necessidade por um novo título. Um jogo difícil dura mais tempo na mão do mesmo jogador, e supõe-se que ele vá demorar mais para comprar um jogo novo.

Mas não tenho nada contra jogos fáceis, eles podem ser bons. É como você disse: "perde o timing pra vender os próximos lançamentos". Se trata de vender, não tem a ver com os jogos, eles são o de menos.


Vice
Certo. Como é um jogo "politicamente correto"?


Menos Playstation
Não sei, acho mais importante que o jogo seja honesto.

Mesmo que um jogo seja preconceituoso em relação a alguma minoria (imagino que você esteja dizendo isso quando fala do "politicamente correto/incorreto"), ele serve como termômetro do pensamento da cena. Aí as consequências são outra história, toda crítica ou repúdio é saudável.


Vice
Eu preciso entender melhor ainda uma coisa: como você espera atingir o gamer que joga PlayStation todo dia, por exemplo? Mostrando-o outras alternativas? Como convencê-lo?


Menos Playstation
Acho que é possível que o videogame independente se aproxime da experiência de jogo de um título do Playstation, sem precisar de um aparato tecnológico tão inacessível pra produzir esse jogo. O que constitui o jogo vai muito além de coisas como "quantidade de polígonos" e "frames por segundo", é muito mais sobre ritmo, narrativa, cores e sons. Um bom desenhista sabe desenhar com materiais caros, mas também consegue fazer um bom desenho com o dedo sobre vidro embaçado. A gente só precisa disputar esse público, estabelecer bases mais modestas pra fabricação dos jogos, e organizar espaços locais de fruição coletiva pra essa produção. O videogame independente não precisa ser sempre loucamente experimental, pode também ser esteticamente conservador, se aproximar das "cores e sons" de um título grandão da indústria.

E aí voltamos ao fliperama, esse espaço histórico de fruição coletiva do videogame.


Vice
Gostaria de perguntar se você poderia me indicar alguns jogos, sejam criações suas ou de colegas. Jogos interessantes que sigam essa ideologia, pra gente divulgar também.


Menos Playstation
Qualquer jogo feito sobre bases modestas é um bom jogo. Tratar explicitamente de ideologias dentro do jogo não é importante. Antes de autores eu recomendo alguns lugares. Um trabalho de curadoria de videogame independente que eu acho muito bom é o do Henrique Antero com o tumblr Jogos Fritos (http://jogosfritos.tumblr.com/), que também tem uma página no Facebook. Na gringa tem a curadoria da Merritt Kopas com o site Forest Ambassador (http://forestambassador.com/). A cena de romhacking também é muito rica e vale uma olhada - recomendo o site "romhacking.net".

Uma recomendação mais precisa é a coletânea Esses Games Violentos: Proibidão, projeto que realizei durante o período em que trabalhei como professor de artes na fase de Porto Alegre. Pra quem não sabe, a fase é uma instituição responsável pela tutela de menores infratores - substituindo a antiga febem. A coletânea é composta por 10 jogos roteirizados, desenhados e com uma trilha sonora selecionada e eventualmente composta por eles. O crime, obviamente, foi o assunto preferido dos autores - e por essa razão o projeto acabou custando meu emprego. Felizmente conseguimos concluir o trabalho antes da minha saída (um pouco clandestinamente, é verdade).

Ao contrário da posição conservadora da casa, acredito que o crime seja um instrumento de empoderamento da juventude periférica, inclusive uma fonte de inspiração estética. Se outras manifestações, como o videogame, puderem oferecer uma vivência aproximada do crime - ou melhorada, se pensarmos o videogame como hiper-realidade - está sendo enfraquecido o poder sedutor do crime; o "crime de fato" perde a obrigatoriedade para o jovem que disputa essa estética, quando há outras opções de vivenciá-la. É um pouco como o RAP em sua origem norte-americana. Me lembro de um aluno, entusiasmado, que especulava comigo: "E se eu começasse a vender os jogos junto com as drogas? Será que iam comprar?", ao que eu respondi que era uma ótima ideia e que talvez, quem sabe, os jogos pudessem acabar circulando tanto ou mais do que as drogas.

Infelizmente não pude acompanhar esse tipo de desdobramento, só tive tempo de concluir os jogos e testar/jogar com eles. Quando começaram a aparecer as ameaças de demissão, exigências do tipo "jogue fora o trabalho dos alunos e minta que os perdeu", e até mesmo um policial tirando fotos da minha aula... aí decidi que já tinha feito o possível por dentro daquela instituição.

Ainda sobre o Esses Games Violentos: essa é uma segunda edição do projeto - sempre que realizo jogos com alunos eu publico sob esse "selo", digamos assim. O primeiro foi feito com alunos do Colégio de Aplicação da UFRGS, uma escola academicista em que estagiei durante um ano da minha graduação.

Uma questão importante sobre esses jogos: embora o repertório de videogame dos alunos seja composto de jogos como GTA, Counter-Strike e outros títulos com essa mesma complexidade, nenhum deixou de gostar do resultado do trabalho, a despeito da simplicidade. Perceberam que o videogame é realizável, e realizável por eles. Um aluno chegou a me perguntar se tinha sido eu o criador do Counter-Strike. Pra ele não existia diferença entre isso e o que estávamos fazendo, saca?

O jogo que mais me deu problemas foi um chamado "Fuga do CSE". CSE é a unidade de segurança máxima. Tiraram todas as turmas que eu tinha nessa unidade, alegando que eu estava incitando os alunos a fugirem. É engraçado: o que mais pode se pensar vivendo numa prisão de segurança máxima? Trabalhei durante um trimestre com eles nesse projeto e não aconteceu nada. Depois de terem me tirado de lá - talvez por coincidência, talvez não - houve um motim no CSE. Parte dos guris, os que já eram maiores de idade, foram mandados pra uma prisão de segurança máxima comum, de adultos, para "passarem uns dias". Uma prisão em Charqueadas, interior do RS. Por não ter mais permissão pra entrar lá, acabei nunca descobrindo os detalhes.


Vice
Você não vem pra SP? Vai estar no festival Telas? No espaço indie?


Menos Playstation
Não tenho nenhuma boa razão pra ir a São Paulo no momento. Nem sei o que é o festival Telas, não tenho uma relação muito próxima com a cena de São Paulo.


Vice
Você encontra alguma dificuldade pra divulgar seus jogos? Costuma divulgar só na surface? Ou deep web tbm?


Menos Playstation
Não costumo divulgar muito. Quando sai algum comentário, normalmente é através do Twitter.


Vice
E como foi o evento [falando sobre "A Bienal é chata!"]?


Menos Playstation
Um pouco decepcionante, não apareceu muita gente.


Vice
Você acha que não apareceu por causa da cena em POA? Ou porque a galera não é engajada?


Menos Playstation
Bom, não se pode dizer que há uma "cena" em poa - são muito mais tentativas de propor uma cena. Das pessoas que fazem jogos em Porto Alegre e que estiveram no evento, tem a Bruna Dias, que publicou recentemente um jogo chamado espaço-2, e que já organizou comigo algumas jams. Além dela, apareceram alguns amigos e frequentadores do Instituto de Artes. Aqui em Porto Alegre a coisa é muito nova, então não me arrisco a dizer que "a galera não é engajada", não há de fato "uma galera". Realmente é muito diferente de São Paulo, não se pode comparar de forma justa.

Para fortalecer os autores locais, dizemos que é uma cena. Mas são dimensões muito diferentes de São Paulo.

Mesmo assim, a cena de São Paulo não tomou as proporções que tem, tão rapidamente, sem alguns prejuízos. Considero ela de certa forma vazia - não há referência de princípios que esteja mais ou menos evidente para todo mundo, então há todos os tipo de interesse (muitas vezes conflitantes) formando e deformando o indie paulista. O que eu gostaria de ver é uma cena de videogame independente sobre bases anarquistas - e isso é um pouco mais difícil de estruturar sem que se parta, antes, de uma cena maior e mais caótica, para posteriormente disputá-la. Ou seja: fica aí uma dica para o pessoal que está compondo a cena de lá.

Só pra não deixar as coisas obscuras pros leitores: existe, no senso comum, a associação do anarquismo com o caos. O caos, na verdade, está sempre presente em qualquer ambiente, em qualquer contexto, e é sempre uma força com a qual precisamos lidar. Onde não há tentativas de organização, tentativas de lidar com o caos, o fluxo das coisas empurra tudo para o caminho mais fácil. Passa mais água pelo buraco maior, digamos assim. Para que ninguém acumule responsabilidades demais, poder demais, capital demais, precisamos do anarquismo. É por isso que os anarquistas não costumam participar do sufrágio universal, preferem o voto nulo - é preferível que a responsabilidade de organizar a sociedade esteja distribuída entre os membros da sociedade da maneira mais equilibrada possível, e não depositada sobre os ombros de uma pessoa eleita. Portanto, o caos é mais cruel onde o poder é mais robusto [e não o contrário, como se costuma pensar nas tradições autoritárias].


Vice
Você consegue me descrever na prática como seria essa cena anarquita nos games? Com exemplos.


Menos Playstation
Em detalhes, não consigo, isso seria adivinhar o futuro. É mais o tipo de tarefa pra quem escreve ficção científica. Talvez essa "cena anarquista" de um futuro provável não tenha esse nome, talvez "anarquismo" nem seja uma ideia que passe pela cabeça das pessoas que, na prática, consigam compor essa cena. Mas o anarquismo existe como um repertório de teorias e práticas que podem ajudar qualquer indivíduo ou grupo que deseje construir uma sociedade em que a competição, enquanto eliminação do outro, não seja o cerne das relações. O mercado é basicamente esse tipo de competição, e uma cultura ou subcultura construída sobre os mecanismos do mercado tende a desaparecer (ou se aburguesar, se perder completamente de seus objetivos originais). O cerne das relações deve ser o apoio mútuo.

O primeiro passo pra gente chegar nesse futuro é fazer a autocrítica das coisas que já existem. Fazer a autocrítica das minhas escolhas e dos rumos do grupo do qual me aproximo. Discutir princípios e objetivos, manter permamente essa discussão. Observar quais são as posições de poder e prestígio estabelecidas no agora, e estar atento às dinâmicas que formam essas posições (não simplesmente negá-las, elas existirão mesmo na sociedade anarquista - a diferença é que, na sociedade anarquista, teremos a responsabilidade coletiva de reorganizar essas dinâmicas constantemente). Questionar se tudo o que foi observado está próximo ou distante dos princípios e objetivos. Percebendo que essa coletividade se encaminha para um momento venenoso e que as posições de poder e prestígio estão de tal forma organizadas que tornam a autocrítica uma prática impossível, formar dissidências a partir das coletividades que estão à margem dessas posições.

É o melhor que eu posso dizer. Explicar como será a forma dessa cena, sociedade, cultura ou subcultura, depois de feita a reorganização, seria até um mal, considerando que não há um "depois da reorganização", e sim um eterno "durante".

7 comentários:

  1. Li a versão deles e agora a sua... po, pareceu até aqueles resumos de ensino médio o que os caras publicaram xD

    Achei legal esse "aprofundamento" (digamos assim) que a repórter causou no assunto. Desde os tempos da Arcaica seus textos sempre tiveram uma abordagem bastante direcionada, as vezes até exigindo alguma pesquisa paralela pra melhor compreensão.

    Fazendo a vez do "leigo" ela acabou te forçando a explicar certos pontos em termos bem práticos/acessíveis. Não sei até onde tu considera benéfico (ou se considera assim) a abertura dessas ideias pra pessoas que não tem uma vivência tão grande nesse meio.

    Esse é um detalhe que sempre achei meio estranho... a ideia é "desintoxicar" o gamer moldado pela indústria, mas ao mesmo tempo o movimento (ao menos nos textos) tem uma linguagem um tanto refinada demais pra atingir a massa que joga Ps (não digo em termos de vocabulário, só pra constar).

    O engraçado é que em dado ponto é citada a cena indie de SP, algo de porte, mas moro em SP desde que nasci e não sei de p*** nenhuma disso. Talvez eu não acompanhe os canais certos, mas novamente me incomoda que tudo seja muito limitado a um círculo restrito, tipo, um cara "comum" não descobre esses movimentos facilmente, logo não tem grandes possibilidades de ingressar.

    Em outro momento é falado sobre os indies Br e o mercado gringo... algo que me desanimou bastante (não que em algum momento eu tenha desejado lançar um jogo e ter trolhões de downloads, mas falando do ponto de vista de um indie beeem indie que faz arcades minimalistas) foi perceber recentemente que a modinha do retrô/8bits/etc gera mais movimento de likes e retweets do que o pessoal jogando propriamente.


    OBS. O texto ficou maior que o limite de caracteres, então estou dividindo em 2 comentários;

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  2. A exemplo tem o meu joguinho que te mandei lá no twitter outro dia. Houveram algumas citações dele em artigos/divulgações de grande visibilidade, o que foi até bem inesperado pra mim, mas após alguns dias percebi que mesmo com milhares de interações entre essas postagens e as redes sociais/etc, o montante de downloads mal chegava na marca dos 100.

    De fato, a grande maioria daquelas pessoas não jogou, apenas agiu instintivamente clicando nos botões de repassar/reblogar/requentar e afins. Igualmente, observando as publicações dos mesmos autores pra outros jogos tive a nítida impressão que o processo é muito mais mecânico do que parece... de um lado o "caça-indies" posta jogos mais pela obrigação de renovar o conteúdo do site que pela real experiência que teve ao jogar, enquanto por outro os leitores fazem aquela roda girar de forma totalmente impessoal e sem o menor propósito.

    Talvez pior que isso, no fórum do NES Archive - site nacional totalmente dedicado ao Nintendinho - um único usuário chegou a jogar e comentar enquanto outros apenas passavam pra dizer que "parecia legal" e "depois davam uma olhada". Esse não é um público qualquer, não é aquele guri que conheceu pixel art com Minecraft e entrou no embalo do 8bits porque o Steam transbordou de joguinhos retrô.

    Se supõe que essa galera enxergue o videogame ao menos próximo da ideia de que não é preciso 60GB de texturas pra fazer um jogo bom/divertido, do contrário porque ainda estariam jogando NES, certo? Errado! Eis que lá mesmo, em outro tópico, uma discussão abordava o uso atual do 8bits nos indies como "preguiça de fazer algo melhor" (citaram até o jogo do ninja lá do seu amigo, esqueci o nome).

    Um argumento que me chamou a atenção (não por ser bom) foi quando o autor do tópico associa o Windows como uma plataforma que não justifica gráficos "toscos", muito menos um arquivo de 100+ MB... nas palavras dele "quem hoje ainda desenvolve 8bits pra um hardware real como o Master, NES e Gameboy merece eterno respeito, mas fora isso é preguiça dos caras, fazem qualquer m*** pra ser fácil e terminar mais rápido".

    Enfim, lendo seu texto agora e lembrando essas coisas me pergunto o que é mais complicado nesse processo que teu movimento propõe: atingir a galera que joga Ps porque é o top de linha ou a galera que finge que curte o retrô porque é cult e dá uma pose =/

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  3. Por isso eu acho que o próximo passo do videogame independente deve ser o fliperama - um espaço que exija do entusiasta uma dedicação maior ao jogo. Na internet, o jogo disputa espaço com muito mais informação - essa ansiedade afasta as pessoas de uma experiência mais completa do jogo.

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  4. Tu já fez algumas experiências nesse sentido né? Rolou algum público de fora (que não estava envolvido diretamente)?

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  5. Só eventos pontuais, nunca um espaço mais permanente.

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  6. Como isso poderia ser viabilizado? Digo, de que maneira poderia descolar esse espaço e, obviamente, equipamento pra poder montar as "máquinas" (leia-se PCs velhos ligados em TVs de tubo).

    Aqui em SP existe um programa de subsídio da prefeitura para projetos de entretenimento com cunho social (meu irmão mesmo faz umas paradas nessa linha, mas com música e skate), porém a questão da ""violência"" certamente não seria vista da maneira que esse movimento coloca.

    Pequenos estabelecimentos comerciais também podem ceder espaço em troca de movimento (os jogos atraem pessoas e estas consomem comida ou bebida/etc), mas provavelmente cai no mesmo problema da ""violência"".

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  7. Pra ter a liberdade de organizar qualquer tipo de coisa, penso que pode ser problemático depender de um estabelecimento comercial que já vai ter suas próprias regras. Pra eventos, sim, aí as parcerias desse tipo podem funcionar. Pra um espaço permanente, meu plano é alugar uma sala em breve, já estou investindo em equipamentos.

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