A concepção liberal de comunidade no videogame independente não tem a ver com o que essa palavra significa para a esquerda. Fazer o community building, no jargão empreendedor, significa garantir atenção pros seus jogos, estabelecer dominância num mercado de gente desesperada por um pouco da atenção que você acumula. É uma economia do puxa-saquismo, mesmo. A comunidade quer o seu lugar e você não quer cair para a comunidade.
Uma perspectiva de esquerda não está preocupada com o mercado, mas com a sobrevivência das pessoas. Se essa sobrevivência passa pelo mercado e esse mercado não é sustentável, não é acessível para todos, então há um problema de estrutura. O liberal vai propor que é só uma questão de técnica, de compreensão das tendências e de talento em community building (que não mexe na estrutura, apenas abusa de uma estrutura já disfuncional). Em outras palavras: o liberal vai dizer que a miséria produzida pela estrutura é culpa individual daquele que não é talentoso.
A tarefa da esquerda no videogame independente é propor esses outros jeitos de sobreviver, de se organizar em comunidade. E, especialmente da esquerda com preocupações libertárias: em como fazer isso de forma a não ficar dependendo de figuras carismáticas. As lideranças carismáticas são em certa medida inevitáveis, e por isso a estrutura deve ser mole e inteligente pra sobreviver às ausências e silêncios dessas personalidades - também inevitáveis.
Solucionar problemas não é ser contra a realidade no sentido de negá-las. A realidade deve ser considerada na solução dos seus problemas. Solucioná-los deve ser entendido como algo possível e importante. Vamos ouvir quem ainda tem esperanças - Ignorar os egoístas é uma excelente ideia, também. Ou melhor: ouvi-los criticamente e optar por não fortalecer seus discursos e práticas.
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